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De zero a ..., 2000.Instalação de 5.000 balinhas sobre parede. Dimensões vairáveis.

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De zero a ..., 2000.Instalação de 5.000 balinhas sobre parede. Dimensões vairáveis.

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De zero a ..., 2000 - detalhe.

domingo, 5 de setembro de 2010

Edney Antunes: política, apropriação e participação.



O conjunto de instalações que Edney Antunes desenvolveu nos últimos anos exibe um alinhavo conceitual que coloca sua obra dentro de um campo de relações entre arte, política e mídia, tensionando em diferentes níveis questões relacionadas aos problemas debatidos tanto pelo circuito artístico quanto pela sociedade.
Surge, com freqüência, em sua produção um enunciado crítico sobre a distribuição de poder e de visibilidade dentro da própria instituição da arte, sobre o discurso estético manipulado politicamente pela História da Arte e pelo museu como depositário de coleção pública; em certo momento ele coloca em xeque o jogo entre a autoridade do curador e a liberdade do artista.
A apropriação é uma operação bastante recorrente – arrolam-se imagens de revistas e jornais, de celebridades e de acontecimentos, fotografias de autores e fotografias impessoais de crianças desaparecidas, depoimentos de pedintes e logomarcas de produtos agrícolas – e geralmente a reprodução do elemento apropriado no contexto da obra acontece com a aplicação de técnicas e veículos de natureza publicitária, como back-light, plotter e out-door.
Edney estrutura instalações cujos conteúdos são abordados com retórica descritiva ou narrativa, e faz isso como estratégia de aproximação com o público, preocupado com o envolvimento do espectador e em suas implicações. Muitas vezes ele propõe trabalhos interativos que operam com a participação direta do espectador no corpo da obra, convidado a chupar uma bala, a carimbar a mão, a apagar uma tarja sobre os olhos, ou simplesmente a olhar-se no espelho e ver-se refletido dentro da obra, e assim o sentido da visão do espectador passa, também, a ser explorado pelo artista.
Algumas instalações de Edney dão voz aos excluídos e marginalizados para promover a reflexão sobre a realidade social do Brasil; aí entram as imagens de crianças desaparecidas, os retratos dos mendigos, as falas dos pedintes, o prato do faminto. São ícones dos conflitos instalados na realidade de um país repleto de grandes contrastes e de descaso com a população pobre.
O título das obras, escritos em português ou em inglês, é elemento importante que instaura um campo de interpretação onde muitas vezes a ironia se faz presente. Nas obras de Edney o espectador é solicitado tanto a ver imagens e objetos quanto a ler mensagens e textos que funcionam como instruções e chamadas, como depoimentos de conteúdo impactante e como legendas que re-significam as imagens.

Divino Sobral

domingo, 27 de junho de 2010

Trajetos


















No início dos anos de 1980, Edney Antunes precocemente apresentou-se ao meio artístico. Autodidata, buscou uma formação solitária, direcionada ao acompanhamento das questões tratadas pela arte brasileira. Antunes passou por muitas fases até chegar a desenvolver trabalhos de consistência – o que ocorreu mais para o final da década. Cabe salientar que o artista desde essa época desenvolveu sua carreira através de participações em Salões e mostras coletivas, e não por meio de exibições individuais. Seu trabalho incorporou repertórios divulgados pelas estéticas do Grafite e do Neo- expressionismo que eram algumas das vogas de então. O artista juntamente com Nonato (artista que integrava o “Atelier Inhumas”) fundou o Grupo Pincel Atômico que respondeu por intervenções de grafite de arte em muitos locais de Goiânia. A experiência com grafite foi concomitante com desenrolar de pinturas em que a figuração humorada e meio pop articulava elementos extraídos do cotidiano, como carros ou comida, revestidos com a citação de uma pele animal executada com cores ácidas, e também com o desenrolar de trabalhos com suportes recortados com figurações que remetiam aos ícones da cultura pop. No final da década, explorou questões relacionadas com representação e gestualidade, abstração e materialidade, e obteve sucessivas premiações nos Salões goianos. As pesquisas matéricas perduraram nos primeiros anos da década de 1990, configuradas nos “Totens” que vergavam o plano à dimensão tridimensional.






















Apesar de ter investido no início dos anos 90 na pintura, Edney Antunes logo se concentrou na elaboração de instalações baseadas em diversas apropriações e que enveredavam por reflexões de ordem política, pelo cruzamento de cultura popular com cultura de massas, pelo interesse em tratar temas relacionados com a marginalização cultural e a exclusão social. Depoimentos de pedintes e excluídos foram estampados em camisetas, a imagem de seu auto-retrato como seqüestrador cercada de imagens roubadas da História da Arte, fotos de crianças com tarja nos olhos figuradas como estampas em papéis de balinhas, retratos de adolescentes negros, fotografias de Michael Jackson e da ovelha Dolly com espelhos que refletiam a imagem do público no interior da obra, ou ainda, carimbos para o público carimbar uma imagem em seu corpo, eram manobras que solicitavam uma atitude mais ativa e responsável para com os problemas do mundo real.
















Texto de Carlos Sena - Arte Contemporânea de Goiás, de 1970 à atualidade.